Uma Lulik (as casas sagradas) na cultura do povo timorense
Uma lulik (as casas sagradas) na cultura do povo timorense
A cultura de Timor-Leste, a Ilha do Crocodilo, tem a sua raiz na uma lulik ou uma lisan. É esta a designação que se dá à casa sagrada e tradicional onde os rituais são realizados, pelos timorenses, para chamar os seus antepassados. Uma lulik era o local mais relevante na cultura do povo timorense antes de os missionários portugueses terem tido contacto com povo timorense, em 1512. Com a chegada do cristianismo, a Igreja passou a ocupar também um lugar de destaque na cultura do povo.
Em geral a uma lulik é localizada na aldeia de origem da família. As relíquias sagradas dos antepassados são guardadas na uma lulik. Há sempre um velho (chefe) que é considerado como o intermediário entre o mundo espiritual e o real. A uma lulik é construída com recurso a vários objetos naturais e com elementos culturais. O processo da construção da casa demora cerca de seis meses de acordo com todos os preceitos tradicionais da uma lulik, com carinho, dedicação e empenho da comunidade, plena de dignidade.
Nas casas sagradas existem altares e objetos sagrados, como a surik (espada), o tais (tecido), o tambor, a bandeira, o kaibauk (adorno tradicional de ouro ou prata usado na cabeça), o belak (objeto tradicional igualmente de ouro ou prata que se usa pendurado ao pescoço) e a rota (um ceptro que simboliza a autoridade), bem como outros elementos considerados importantes.
Na casa tradicional, o povo revela os seus sentimentos e o seu clamor aos seus antepassados e a Deus. Foi sempre um lugar do culto e de encontro entre os vivos e os mortos. Além de lugar de encontro, durante a colheita do milho ou do arroz existe o ritual de colocar uma parte destes cereais dentro da casa como um sacrifício.
Ao longo de vários anos, a uma lulik foi identificada pelos antropólogos como uma instituição social e uma estrutura física. Eles expandiram os seus conhecimentos sobre as casas, catalogando-as em diferentes regiões e grupos de idiomas.
A uma lulik, até a chegada do Português e apesar dos contactos timorenses com outros povos, manteve o seu relevo como elemento central da organização social. As explicações cosmológicas timorenses, a cultura e as instituições tradicionais, dada a presença Portuguesa, foram objecto de uma assimilação pelos Portugueses, que produziram um conhecimento tradicional sobre a cultura etnológica dos usos e costumes que serviu para seus próprios interesses políticos. Às vezes, o choque de culturas materializou-se na destruição de casas sagradas.
A ocupação estrangeira indonésia reduziu o valor da uma lulik. Em 2002, depois da independência, houve um esforço fervoroso para reconstruir as casas sagradas que foram destruídas e saqueadas pelas milícias em 1999 em toda extensão de Timor-Leste. Depois da independência, a uma lulik voltou a ganhar relevo e o seu valor: preserva a tradição do país, as relações familiares e, portanto, preserva a própria base cultural para as novas gerações.
Os timorenses identificam três estilos diferentes de uma lulik que representam a cultura do país: os das regiões oeste, central e leste do país. A Uma Lulik tem um número de divisões significativas e todos os objetos que são armazenados na uma lulik são sagrados. O telhado eleva-se a uma altura desproporcionada em relação á base. Se observarmos a uma lulik de diferentes perspetivas, vemos que o pombo e os chifres de búfalo são claramente mostrados no telhado, mas a estrela que representa os valores fundamentais muitas vezes não é muito claramente vista.